Livro Introdução ao estudo da medicina experimental | Claude Bernard | Tradução Daniel Rameh de Paula

A Editora Madamu lança tradução inédita no Brasil do clássico Introdução ao estudo da medicina experimental de Claude Bernard (1813-1878). Conhecido como filósofo da ciência e epistemólogo, e considerado um dos principais fundadores da abordagem experimental hipotético-dedutiva, o médico e fisiologista francês desenvolve, nesta obra, extensas discussões metodológicas e analisa os temas da indução e da dedução em relação ao nosso modo de pensar e agir nas ciências em geral. É, até hoje, uma referência no estudo da indução e do método experimental. Sobre Claude Bernard e sua Introdução, o filósofo Henri Bergson declarou que “A ‘Introdução a[o estudo] da medicina experimental’ é um pouco para nós aquilo que foi o ‘Discurso do método’, para os séculos XVII e XVIII”.

No campo da fisiologia, Bernard foi o responsável por uma descoberta revolucionária quanto ao entendimento dos princípios fundamentais da vida orgânica, que continua válida até hoje. É o conceito da estabilidade controlada do ambiente interno, composto pelas células e tecidos: “A estabilidade do ambiente interno [o milieu intérieur] é a condição para a vida livre e independente”. Este é o princípio subjacente do que mais tarde seria chamado de homeostase, termo cunhado por Walter Cannon no início da década de 1930.

A edição brasileira da Introdução ao estudo da medicina experimental foi traduzida por Daniel Rameh de Paula, contou com a revisão dos termos técnicos pelo Dr. Davi James Dias e tem o prefácio assinado pelo Dr. Nelson Ibañez, professor adjunto de Medicina Social FCM da Santa Casa de São Paulo e Pesquisador do Centro de Memória do Instituto Butantan. Diversas notas explicativas foram acrescentadas para esclarecer o leitor do século XXI sobre nomes de cientistas citados pelo autor e que hoje são pouco ou nada conhecidos.

SOBRE O AUTOR
Claude Bernard nasceu em 1813 em Saint-Julien, interior da França. Filho de modestos vinicultores, iniciou sua educação, de caráter humanístico, em escolas religiosas de localidades próximas à sua cidade natal. Com o intuito de tentar a carreira como escritor em Paris, foi se estabelecer nos subúrbios de Lyon onde conseguiu emprego como aprendiz de um boticário.

Mudou-se para Paris no início da década de 1830, onde obteve seu diploma de bacharelado. Em seguida entrou no curso de medicina, formando-se em 1843. Neste período, trabalhou como interno em hospitais municipais e com François Magendie, catedrático do Collège de France, a quem considerava um mestre. Em 1844, os dois iniciam pesquisas sobre a fisiologia dos nervos e da digestão e, nessa época, por sugestão de Magendie, Bernard começa a trabalhar com a dissecação de animais, como parte importante da investigação científica, em seu próprio laboratório.

Apesar do reconhecimento científico alcançado por sua primeira obra publicada Recherches anatomiques et physiologiques sur la corde du tympan (1843), Bernard teve certa dificuldade para se estabelecer como fisiologista em Paris, decidindo voltar à sua terra natal para exercer as funções de médico. De lá saiu, alguns meses depois, para se casar com Fanny Martin, filha de um físico parisiense.

Em seu retorno a Paris, inicia fase de grande atividade científica, novamente apoiado por Magendie, a quem substitui no Collège de France e de quem herda não apenas a cátedra na Instituição, como também seu laboratório, o que lhe permitiu prosseguir com suas pesquisas. Em 1846 descobre, através da observação e comparação da urina de diferentes animais (herbívoros e carnívoros), que o pâncreas acumula gordura, e nos anos seguintes detecta a presença de açúcar no sangue e no fígado, atribuindo uma função glicogênica ao órgão, o que o leva a formular uma teoria inovadora, tanto em relação aos resultados alcançados quanto em relação àmetodologia aplicada. Sua teoria seria publicada em 1848.

Com a estabilidade assegurada em Paris, garante suas pesquisas em fisiologia e conclui doutoramento em ciências ao apresentar trabalho sobre o fígado e o metabolismo humano, em 1853, publicado logo após a defesa. Em 1854 foi eleito membro da Academia Francesa de Ciências e catedrático de Fisiologia Geral da Faculdade de Ciências da Sorbonne, em cargo criado exclusivamente para que pudesse orientar as pesquisas francesas na área de fisiologia. Com tal atribuição, entre os anos de 1854 e 1860 Bernard se envolveu com uma série de pesquisas voltadas à inovação das técnicas de laboratório e ética da pesquisa laboratorial em medicina. Considerado também um grande inventor de técnicas e aparelhos para aplicação no estudo da fisiologia, dizia que “o laboratório é o templo da ciênciamédica”.

Entre os anos de 1862 e 63, ainda responsável pela área de Fisiologia Geral na Sorbonne, Bernard conclui seu primeiro trabalho teórico, hoje referência para o estudo da medicina moderna, e que viria a ser publicado em 1865: a Introduction à l’etudede lamédecine expérimentale.

SOBRE O TRADUTOR
Daniel Rameh de Paula é Licenciado em Letras (português e francês) pela Universidade Federal de Minas Gerais. Em 2015 venceu o Prêmio Nicolas Behr de Literatura, no gênero Poesia, do Programa de Pós-graduação em Literatura da Universidade de Brasilia (Unb).